A evolução do preço dos combustíveis após o início da Guerra na Ucrânia
- Filipe Grilo
- 17 de jan. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de jan. de 2024
Todas as semanas, sai a notícia de como é que os preços dos combustíveis vão evoluir na próxima semana. E parece que as notícias são sempre que os combustíveis ficam mais caros, mas a verdade é que os preços dos combustíveis já se encontram ao nível da situação de pré-guerra da Ucrânia, como mostra o seguinte gráfico. Neste pequeno artigo, vou descortinar as razões para esta evolução dos preços dos combustíveis.
O preço do combustível é essencialmente constituído por três grandes fatias: o preço do petróleo, a margem de refinação do petróleo em combustível e os impostos. Para se entender a evolução do preço do combustível, ajuda então olhar para cada uma destas variáveis.
Começando pelo preço do petróleo, esta é a fatia mais relevante que justifica as grandes variações dos preços dos combustíveis. Nestes últimos dois anos, o mercado do petróleo tem sido marcado por vários acontecimentos económicos e geopolíticos. No início de 2022, a guerra da Ucrânia causou a primeira comoção no mercado do petróleo. Com o aumento da incerteza de uma guerra causada por um grande produtor de petróleo, os investidores apressaram-se a comprar o petróleo, provocando uma primeira subida do preço do petróleo logo em Março. Passaram-se uns meses de alguma incerteza até que a União Europeia em Junho chegou a um acordo para impor sanções à Rússia, tornando o petróleo ainda mais raro nos mercados ocidentais. Quando um bem se torna raro (neste caso porque deixamos de aceitar comprar a um vendedor muito importante), o preço tende a subir. Neste caso, como as sanções impuseram um corte violento na oferta de petróleo Russo, o preço do petróleo disparou. Esta subida em junho justifica a segunda grande subida dos preços dos combustíveis.
A terceira subida acontece antes de chegar o inverno na Europa porque os investidores pensavam que a Europa poderia ter um problema de racionamento de gás durante o Inverno. Felizmente o Inverno europeu foi relativamente ameno e a Europa não precisou de utilizar grande parte das suas reservas de gás natural, fazendo com que a incerteza sobre a reserva energética europeia diminuísse e consequentemente o preço do petróleo diminui. Para além disso, a subida das taxas de juro por parte dos Bancos Centrais mundiais para atacar o processo de inflação, começou a sentir-se mais no início de 2023 e a economia mundial começou a arrefecer.
Este efeito contribuiu para que, em Maio de 2023, o petróleo atingisse um preço ao nível do preço antes da guerra na Ucrânia. Precisamente por causa disso, em meados deste ano, numa jogada geopolítica, a Rússia e a Arábia Saudita acordaram em produzir menos petróleo. Este acordo teve o efeito imediato da subida do preço do petróleo que culminou em Outubro, dissipando este efeito a partir daí.
Como é percetível, todos os eventos que impactaram seriamente a evolução do preço do petróleo impactaram automaticamente os preços dos combustíveis em Portugal e quase explicam toda a variação ao longo destes dois anos. Ainda assim, como disse no início, ainda há outras duas variáveis que podem ajudar a explicar uma pequena parte da evolução dos preços dos combustíveis.
Inicialmente, com a subida do preço do petró-leo e consequentemente subida do preço base, o IVA, como é um imposto percentual, também aumentou (se um produto que custa 1€ passar a custar 2€, o IVA sobre esse pro-duto duplica). É isso que justifica aquela subida inicial dos impostos. Mas, tendo em conta a pressão da opinião pública contra a subida da receita que o estado estava a arrecadar à custa da subida do preço dos combustíveis, o governo implementou vários cortes nos impostos sobre os combustíveis. Estes cortes duraram até Abril deste ano, quando o governo decidiu reverter gradualmente estas ajudas. Atualmente, como o gráfico mostra, o governo arrecada um pouco mais de imposto do que arrecadava em Janeiro de 2022. Como seria de esperar, esta redução de impostos teve o efeito de amortecer em parte a subida dos preços dos combustíveis.
Por fim, a última variável é a margem de refinação, ou seja, quanto é que custa transformar o petróleo em combustível. Esta margem consegue-se obter através da dife-rença entre o preço do petróleo e o preço do combustível sem impostos (o chamado preço base). Quanto maior a diferença entre o preço base e o preço do petróleo, maior a margem de refinação. Esta margem pode aumentar porque o processo de refinação pode ficar mais caro ou porque as empresas decidem aumentar o seu lucro.
Como podemos ver pela figura seguinte, a margem de refinação aumentou na maior parte deste período, exceto no início quando o preço do petróleo disparou primeiro do que o preço base do gasóleo. Tirando esse período inicial, o preço base aumentou consideravelmente mais do que o preço do petróleo, nomeadamente no período de Junho de 2022 até Fevereiro de 2023. Este aumento da margem de refinação pode ser justificado pelo aumento do preço de alguns quí-micos de refinação e, a partir do final de 2022, de aumentos salariais do pessoal na indústria (para combater a perda de poder de compra provocada pela inflação). Mas também não nos podemos esquecer que estamos num setor dominado por três grandes empresas que, coincidentemente, apresentaram lucros historicamente altos.

Fonte: Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG)
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