O consumismo natalício
- Leonor Couto
- 21 de dez. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 17 de jan. de 2024

Rua de Santa Catarina, dezembro de 2020. Fotografia: Miguel Nogueira/Câmara Municipal do Porto
O Natal é o consumismo no seu expoente máximo de tal forma que deveria ser considerado um
crime contra a humanidade. Os miúdos são cada vez mais instruídos para este espírito consumista:
o Natal são prendas, ponto.
Tudo começa com os catálogos de Natal e com a possibilidade que a maior parte das famílias dão
às crianças na realização de uma lista enorme de brinquedos. Inquieta-me este espectro, porque é
aqui que tudo começa. As crianças absorvem tudo e este espírito consumista não é exceção. O
verdadeiro sentido da época vai ficando em segundo plano. A celebração do nascimento de Jesus
e a união familiar deixam de fazer sentido.
Há ainda uma outra questão que me inquieta nesta época: a tristeza natalícia. Ao consumismo
junto a tristeza de muitos. O Natal é uma época que impõe alegria a todos e para a maioria assim
o é. Mas é importante não esquecer que, enquanto uns têm a possibilidade de comprar quase meio
catálogo da loja dos brinquedos, há quem não tenha comida nem teto e muito menos presentes
para dar aos filhos. Para estes, o Natal, não é uma época feliz, mas sim triste. E quem está triste
sofre a dobrar. Quem não tem nada para colocar em cima da mesa no dia 24 de dezembro sofre a
dobrar. Cabe a quem tem de estar atento a todos os sinais e ajudar quem mais precisa. Sem nunca
esquecer que, quem precisa de ajuda nesta época, também irá precisar durante o resto do ano. Não
é só em dezembro que morrem pessoas à fome.
Faço parte de uma equipa de voluntários. Diariamente trabalhamos no terreno, próximos com a
realidade daqueles que vivem na rua. E os mês de dezembro é sempre o mais difícil e desafiante
de todos. É o contraste real entre aqueles que nada têm e a ostentação, o luxo, o consumismo
destravado da época natalícia, onde crianças com 10 anos já são portadoras de telemóveis com
preços que me doem na alma.
Há uma ideia implícita na sociedade em que o Natal é para gastar. Bem sei que é uma quadra
muito importante para quem dela depende no balanço anual de contas, mas é também uma época
de desperdício de muitos recursos e gastos desnecessários. Não sou contra os que fazem desta
época o seu “ganha-pão”, mas sim do consumismo e do materialismo da sociedade que a destrói
a cada ano que passa.
Não há mudanças sem perdas. Ainda temos um longo caminho pela frente para mudar esta visão.
Se é possível? Creio que sim. Ainda que sinta um tamanho desagrado pelo Homem, tenho sempre
uma réstia de esperança que me faz acreditar que, com muito amor, é possível. Sem nunca
esquecer a velha máxima: há sempre alguma coisa que podemos fazer.
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