Ataque surpresa do Hamas a Israel abre caminho à guerra
- Andresa Gonçalves
- 8 de out. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de jan. de 2024
O grupo palestiniano invadiu o território israelita, ocupou pontos estratégicos e disparou milhares de mísseis na manhã de sábado. Cerca de 500 pessoas já perderam a vida.

Carro destruído após bombardeamento em Ashkelon, no sul de Israel. Fotografia: Ahmad Gharabli/AFP
O povo israelense despertou na manhã de ontem, 7 de outubro, para um cenário de tragédia e destruição. Sábado é dia sagrado de descanso semanal e as sirenes começaram a soar por volta das seis e meia da manhã, enquanto milhares de rockets começaram a cair nas regiões centro e sul do país, atingindo cidades como Ashkelon, Rehovot e Telavive.
Num curto período, grupos de militantes do Hamas conseguiram passar a fronteira a partir de Gaza e instalar-se em vilas e aldeias no sul do país, sequestrando civis e militares israelitas. Para aumentar ainda mais o caos, rockets foram lançados na direção de alvos em Israel.
O ataque surpresa, que é já considerado um dos maiores sofridos por Israel nos últimos anos, vitimou, até agora, cerca de 500 pessoas, segundo informações dos serviços de emergência israelenses.
Falhas na vigilância
O mundo assiste perplexo à forma como uma grande quantidade de unidades armadas do Hamas conseguiu penetrar no território israelense com aparente facilidade. Multidões atravessavam a fronteira de Gaza a pé e houve, até, quem chegasse a Israel através de parapente. A barreira construída pelo país para isolar Gaza é constituída por uma vedação com estrutura subterrânea, bem como por sensores altamente sofisticados e uma grande quantidade de câmaras de vigilância. Israel tinha tudo preparado para evitar qualquer passagem, mas algo falhou.
Começa a questionar-se onde estavam as Forças de Defesa de Israel (IDF), a segurança e a polícia no momento do ataque. Surge, igualmente, a dúvida de como é que o país, que tem vindo a aprimorar, ao longo dos últimos anos, o sistema de recolha de informações, foi apanhado de surpresa pela ofensiva do Hamas, já que a forma como esteve coordenada sugere que existiu um elevado grau de planeamento. “A vigilância feita por Israel da sociedade palestiniana é tão altamente sofisticada como invasiva, em que a monitorização da atividade do Hamas em particular é uma das tarefas mais importantes do aparelho de segurança. ”, como explica o jornalista do The Guardian, Peter Beaumont.
Além das centenas de mortes confirmadas, há informação de mais de um milhar de feridos. Os combatentes do Hamas fizeram, ainda, um número não especificado de pessoas como reféns, sendo que várias foram levadas para a faixa de Gaza. Vídeos divulgados nas redes sociais, mostram militares e civis israelitas algemados e ensanguentados em Gaza. Além disso, circulam, também, vídeos de civis a serem capturados ainda em solo israelense. O chefe-adjunto do Hamas, Saleh al-Arouri, confirmou que o grupo tem em sua posse “um elevado número” de cidadãos israelenses, incluindo “oficiais graduados”.
Um dos primeiros locais a ser atacado em Israel foi um festival de música que estava a decorrer perto da fronteira com Gaza. Nas redes sociais, imagens mostram centenas de pessoas em fuga aquando da chegada dos atacantes. Até agora, é desconhecido o número de vítimas e reféns. No entanto, a imprensa israelense avança, após contacto com familiares do público do festival, que centenas de pessoas estão ainda por localizar.
Retaliação de Israel
Horas após o início do ataque, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou, na primeira intervenção pública desde o ocorrido, a magnitude da resposta que viria a ser dada pelo país e afirmou que estão “em guerra”, prometendo “vingança” contra o Hamas. “O nosso inimigo irá pagar um preço como nunca conheceu. Estamos numa guerra e iremos vencê-la”, declarou durante mensagem televisiva.
Netanyahu alertou os palestinianos que vivem perto das instalações do Hamas em Gaza para deixarem o local, prometendo deixar os esconderijos da organização em destroços. “Todos os lugares onde o Hamas está baseado, nesta cidade do mal, todos os lugares onde o Hamas se esconde, onde age – vamos transformá-los em escombros”, afirmou o primeiro-ministro israelita. “Estou a dizer ao povo de Gaza: saiam daí agora, porque estamos prestes a agir em todos os lugares com toda a nossa forma”, acrescentou.
A retaliação já está em curso – começou com bombardeamentos incessantes sobre a faixa de Gaza – e matou cerca 230 pessoas, incluindo civis. Caças israelitas atingiram três edifícios de vários andares em Gaza, transformando o céu em nuvens de poeira, ao mesmo tempo em que torres com mais de dez andares ruíam.
Israel, que antes do ataque surpresa vivia um momento de forte contestação social, deixa o tema em suspenso e vê agora o governo discutir com a oposição a possibilidade de formação de um executivo de unidade nacional com carácter de emergência para comandar a guerra agora iniciada.
Condenação internacional
As ofensivas do Hamas em vários locais de Israel receberam uma ampla condenação pública por parte dos seus aliados tradicionais, como os Estados Unidos da América e a União Europeia. O presidente dos EUA, Joe Biden, reiterou o apoio de Washington a Israel afirmando que “é sólido e inabalável ”, enquanto a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, qualificou o ataque do Hamas como “terrorismo na sua forma mais desprezível”.
Em contraste, o regime iraniano, principal financiador do Hamas, aplaudiu e apoiou o ataque contra Israel. “Apoiaremos os combatentes palestinianos até à libertação da Palestina e de Jerusalém”, afirmou Rahim Safavi, um dos conselheiros do ayatollah Ali Khamenei.
O Hamas justifica o ataque, citando os ressentimentos que os palestinianos sofrem devido à ocupação da Cisjordânia e aos abusos dos direitos humanos por parte de Israel. Um ataque surpreendente e uma guerra que se inicia. O grupo islâmico avisa que está preparado para tudo. “Nós esperamos que os combates continuem e que a frente de batalha se expanda”, diz Saleh al-Arouri, dirigente do Hamas.
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